O corredor principal da Academia dos Herdeiros era feito de mármore branco com veios dourados que brilhavam conforme a luz mágica dos vitrais coloridos atravessava o teto abobadado. O dia ainda estava apenas começando, mas já havia expectativa no ar. O grande teste seria amanhã. Dez minutos de liberdade total numa cidade inteira — sem limites, sem regras, apenas demonstração de poder.
Mas hoje… hoje seria o último dia de calmaria.
As conversas, os olhares, as primeiras intrigas… já haviam começado.
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No dormitório dos rapazes, Ryuu Han Kong — herdeiro do Lorde Macaco do Leste — estava sentado na janela, de braços cruzados, observando o pátio lá fora. Seu cabelo preto com reflexos dourados se agitava com o vento, e sua cauda dourada balançava lentamente, inquieta.
— Jim Sun Wokong… — ele murmurou, olhando para o jardim onde Jim conversava com alguns alunos. — Você realmente acha que pode carregar o verdadeiro legado?
Do outro lado do quarto, Zero Frost estava deitado com as mãos atrás da cabeça, olhando o teto. Seu cabelo branco-gélido caía levemente sobre os olhos azul cristalino.
— Se vai provocar… provoca direito. — Zero falou sem emoção. — Você quer rivalidade, ou redenção?
Ryuu sorriu de canto.
— Eu quero que ele me prove que vale o título que carrega. Só isso.
Zero fechou os olhos.
— Eu só quero que parem de me perguntar se eu sinto frio.
Lian Lokisson apareceu na porta, com um sorriso sarcástico e uma maçã na mão.
— Bom dia, deuses, macacos e geladeira humana. — disse com ironia. — O teste será amanhã, e tudo que vocês conseguem fazer é ficarem emburrados.
Ryuu revirou os olhos. Zero nem se mexeu.
Lian mordeu a maçã, olhando pela janela.
— Amanhã… o mundo vai ver quem merece o título de Herdeiro. E eu, é claro, amo plateias.
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Nos dormitórios femininos, a atmosfera era bem diferente.
Aurora Rayden — herdeira de Zeus — estava treinando o controle de raios em silêncio diante do espelho, enquanto faíscas azuis dançavam entre seus dedos. Isolada, disciplinada, elegante.
— Você está tensa — disse Mei Tsukiyomi, surgindo calmamente com seu sorriso lunar, sentando-se na cama. — Não está nervosa com o teste… está nervosa com as pessoas.
Aurora parou, respirou fundo.
— Talvez eu não saiba… conviver.
Mei sorriu, gentil.
— Pessoas não são para controlar. São para… observar.
No canto, Kaori Ignis — herdeira de Ifrit — mandava mensagens de fogo no ar, que flutuavam em símbolos flamejantes.
"Jim é bonito. Ryuu é perigoso. Zero é frio e misterioso. Loki… medonho." — ela murmurava, categorizando.
— Você tá analisando poder ou… crush? — provocou Mei.
Kaori corou, quase tropeçando no fogo que ela mesma criou.
— E-eu? N-não! Isso é estratégia, inteligência emocional, poder… social!
Aurora suspirou, mas um pequeno sorriso surgiu.
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Mais tarde, os corredores estavam cheios. Professores e herdeiros se misturavam no grande salão.
Professor Merlin caminhava calmamente entre os grupos, observando.
Do outro lado, Professora Selene, da luz e cura, conversava com pequenos grupos, sorrindo gentilmente… já despertando vários corações apaixonados e confusos.
Jim Sun Wokong estava cercado por curiosos, alguns tentando puxar conversa… outros tentando provocá-lo.
— Então, herdeiro do rei macaco… — um aluno comum dizia, claramente tentando tirar uma reação. — É verdade que seu pai está selado e que tem outro herdeiro macaco mais forte que você?
Jim parou.
Silêncio.
Seu olhar ficou sério.
— Meu pai não está morto. Apenas está esperando o herdeiro certo para ser libertado.
Ele passou pelo grupo, deixando-os sem resposta… mas com arrepios.
Ryuu, de longe, observou.
Sorriu.
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Mais tarde, no pátio, os herdeiros estavam em pequenos grupos.
Conexões começavam.
Aurora conversava com Mei sobre estratégia de poder.
Zero Frost e Lian Lokisson discutiam sobre magia antiga.
Kaori Ignis conversava com Jim Sun Wokong — ou melhor, tentava, pois Jim só observava o céu, silencioso.
Ryuu se aproximou. Atmosfera tensa.
— Jim… está pronto para amanhã? — Ryuu perguntou com meio sorriso.
Jim olhou para ele, sério.
— Sempre estive pronto. A pergunta é… você está?
Os olhares deles se encontraram. A vibração de rivalidade fez o ar tremer por um instante.
Zero Frost, observando, murmurou:
— O clima mudou.
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À tarde, os alunos tiveram sua primeira aula oficial: Introdução à Dualidade Herdeira — Poder, Ego e Destino.
Merlin estava no centro, imponente, mas calmo.
— Herdeiros… — ele começou. — Amanhã vocês mostrarão poder. Mas hoje… vocês mostram quem são.
Silêncio.
Ele caminhou entre os alunos.
— O mundo já conhece a força dos pais de vocês. Agora, ele quer saber quem são os filhos.
Ninguém respirava.
Merlin sorriu.
— E eu quero assistir.
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O dia foi terminando lentamente.
Os grupos se dissiparam. Alguns se aproximaram mais. Outros se afastaram ainda mais.
Ainda não havia luta.
Mas… havia algo mais forte.
Almas se reconhecendo.
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À noite, antes de dormir…
Zero Frost olhou pela janela, a neve mágica caindo lentamente do céu.
— Amanhã… — ele murmurou. — O mundo não quer ver herdeiros. Ele quer ver quem vai quebrar o molde.
Lian Lokisson riu.
— E alguns de nós… nasceram para quebrar.
Do outro lado do corredor, Jim Sun Wokong olhou para o céu silencioso.
— Pai… me observe amanhã.
E no dormitório das garotas…
Mei olhava para Aurora.
— Amanhã, os raios vão brilhar… ou vão queimar.
Aurora respirou fundo.
— Depende de quem os carrega.
Kaori sorria para si mesma.
— Eu não quero vencer ninguém. Eu quero mostrar quem eu sou.
Silêncio.
Amanhã era o dia.
O último suspiro antes do caos.
A calmaria antes da tempestade nunca foi tão barulhenta. Não com explosões, mas com algo ainda mais perigoso: silêncios, promessas, provocações — uma guerra que ainda não pode acontecer. Não aqui. Não dentro da Academia dos Herdeiros, onde lutar é proibido… até amanhã.
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No dormitório masculino, o clima já era diferente.
Zero Frost estava sentado na lateral da janela, o olhar fixo para o jardim. O ar ao seu redor parecia mais frio, mas não por sentimento — e sim pela contenção dele.
Lian Lokisson estava deitado, folheando um livro antigo com runas brilhantes, mas sua mente estava longe dali.
Ryuu Han Kong entrou, confiante, a cauda dourada balançando lentamente. Ele olhou para os dois.
— Vocês viram ele hoje? — perguntou, sem rodeios. — Jim Sun Wokong. Parece preparado.
Silêncio.
Lian não levantou os olhos.
Zero não respondeu.
Ryuu forçou um riso curto.
— Estão mesmo ignorando? Tudo isso só porque meu pai…
Zero finalmente falou, sem olhar para ele:
— Porque o seu pai traiu o pai dele.
As palavras cortaram o ar.
Ryuu parou, o sorriso desaparecendo.
— Não fui eu quem fez isso.
Zero se levantou, frio, firme.
— Mas você carrega o nome. E até provar que não é como ele… você é parte disso.
Lian fechou o livro e completou, calmo mas direto:
— E até agora, você não provou nada.
Ryuu ficou sério. Não respondeu. Não atacou.
Sabia que, aqui dentro, era proibido. Mas amanhã… seria diferente.
— Amanhã… — ele murmurou com um leve sorriso — eu escolherei bem meu alvo.
E saiu do quarto.
Silêncio.
Lian olhou para Zero.
— Ele vai atrás de Jim.
Zero, ainda olhando pela janela, respondeu:
— E Jim vai estar esperando.
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Do outro lado do corredor, Jim Sun Wokong treinava sozinho no pátio, equilibrando-se de olhos fechados, em cima de um único cajado cravado no chão. Estável. Pacífico. Mas o olhar… era de alguém que ainda guardava feridas antigas.
Professor Merlin observava de longe.
— Você pretende enfrentá-lo amanhã, não é? — perguntou.
Jim abriu os olhos lentamente.
— Um herdeiro que se esconde atrás do nome do pai… não é digno do título.
Merlin sorriu de leve.
— E se ele quiser provar o contrário?
Jim não hesitou.
— Então eu vou destruir a dúvida.
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No dormitório feminino, as conversas também tinham mudado.
Agora não eram apenas curiosidade e charme.
Havia estratégia.
Havia escolha.
Aurora Rayden estava no espelho, concentrada em uma esfera elétrica que oscilava entre seus dedos. Mei Tsukiyomi, sentada na cama, observava com tranquilidade lunar.
Kaori Ignis entrou, animada, mas parou ao perceber o clima sério.
— Vocês… já escolheram?
Aurora não perguntou o que ela queria dizer. Sabia exatamente sobre o que se tratava.
— Eu… — Aurora respirou. — Quero enfrentar Lian Lokisson. Poder ilusório e mental… quero quebrar esse tipo de arrogância.
Mei sorriu de leve.
— E ele gosta de plateia. Não recusaria.
Kaori pensou um pouco.
— Eu não quero lutar contra ninguém específico. Quero lutar contra todo mundo que subestima chamas. Mas… se eu tivesse que escolher…
Ela hesitou.
— Acho que gostaria de enfrentar Zero Frost.
Silêncio.
— Fogo contra gelo…? — disse Mei, surpresa.
Kaori sorriu, tímida.
— Não. Porque ele luta com frieza. E eu luto com coração.
Mei olhou para Aurora e disse:
— E você? Vai lutar por orgulho… ou por justiça?
Aurora não respondeu.
Mas a eletricidade em sua mão aumentou.
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No pátio central, os quatro rapazes se encontraram — mas não juntos.
Jim estava sozinho, calmo, observando o céu.
Zero e Lian estavam sentados conversando entre si, mas Ryuu caminhava à parte, provocando o ambiente com sua simples presença.
Os professores observavam de longe.
Aurora passou, segurando um livro.
Zero a cumprimentou com um leve aceno.
Jim olhou, mas não falou.
Kaori e Mei se aproximaram. Pararam. Conversaram entre si, mas mantendo distância dos grupos.
Estava claro.
Eles não eram apenas colegas.
Eles eram sucessores de reinos, líderes de legados — e inimigos silenciosos.
E amanhã…
Não será silencioso.
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Perto do anoitecer, os alunos tiveram uma última reunião com Merlin.
Ele caminhou ao centro do salão principal.
Olhares se cruzaram.
Ninguém respirava.
— Herdeiros — disse ele, voz tranquila, mas pesada. — Amanhã não é sobre vitória. É sobre mensagem.
Silêncio absoluto.
— Entendam: o mundo não quer ver quem é forte. — Merlin olhou para todos. — Ele quer ver quem é digno.
Ele parou na frente de Jim.
— Herdeiro de um rei selado.
Parou em frente a Ryuu.
— Herdeiro do traidor.
Parou em Zero e Lian.
— Herdeiros de mentes afiladas… que não esquecem o passado.
Olhou Aurora, Kaori e Mei.
— Herdeiras de alma, chama e luz.
E então, virou-se para todos.
— Amanhã… vocês não vão lutar uns contra os outros.
Um sorriso surge no canto de sua boca.
— Vocês vão lutar contra o destino que herdaram.
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À noite…
Zero olhando a neve que caía.
— Se ele realmente não for como o pai… talvez amanhã eu veja.
Lian sorriu.
— Ou talvez veremos a história se repetir.
Jim, sozinho em seu quarto, murmurou:
— Eu não quero vencer. Eu quero libertar.
Aurora fechou os olhos.
— Pai… hoje eu entendi. Raios não brilham apenas… iluminam verdades.
Kaori, animada, escrevia em um caderno algo como "Lista de rivais (talvez amigos)".
Mei fitava a lua:
— Destinos… começam quando se quebram laços.
Ryuu Han Kong, sozinho, olhando seu reflexo:
— Eu não escolhi esse sobrenome.
Mas posso escolher… o que ele vai se tornar.
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E no último momento, antes de dormir…
Todos pensaram a mesma coisa.
Amanhã… ninguém será o mesmo.
